A transação cruzada da Portugal Telecom (PT), que em um mesmo dia, vendeu sua parte na Vivo para a Telefónica e comprou ações da Oi, tende a acelerar a oferta de serviços convergentes no País, com a integração das redes de telefonia fixa e móvel. Os analistas apontam que isso não só deverá fazer a estratégica das operadoras envolvidas na transação, bem como estimulará que as outras teles se movimentem e criem ofertas inteligentes a preços competitivos, principalmente de banda larga.
Para o presidente da consultoria Teleco, especializada em telecomunicações, Eduardo Tude, o mercado brasileiro deve repetir um movimento que já aconteceu na Europa. Lá, toda vez que uma operadora comprou a outra, houve redução de preços e os consumidores passaram a pagar uma única mensalidade para ter os dois serviços (fixo e móvel), constata Tude.
E o próprio arranjo do mercado nacional de telecom favorece essa oferta, uma vez que, a partir de agora ele passa a estar concentrado nas mãos de cinco grandes grupos: Telefónica/Vivo, Claro/Embratel, Oi/Portugal Telecom, GVT/Vivendi, e TIM/Intelig. Entre esses, somente a GVT não tem braço telefonia móvel, mas a operadora já avisou que pode buscar alternativas para complementar sua oferta fixa. Não se sabe ainda se isso ocorrerá por meio da compra de novas licenças 3G ou por uma operadora móvel com rede virtual (MVNO).
Uma das principais beneficiadas com as transações da Portugal Telecom anunciadas nesta quarta-feira foi a Telefónica, que ao assumir o controle acionário da Vivo fica com o caminho livre para expandir sua operação para fora de São Paulo. Essa aquisição era importante para a companhia, que no ano passado perdeu para o grupo francês Vivendi a oportunidade de comprar a GVT e aumentar sua presença geográfica no Brasil.
Com a infraestrutura da operadora móvel, o grupo espanhol passa a ter cobertura nacional e ganhará sinergia para ofertar serviços convergentes. Porém, a sua prestação de voz fixa continua restrita ao mercado paulista, que é sua área de concessão para esse tipo de serviço.
Faltava para a Telefónica uma empresa que lhe desse condições de atuar em todo o Brasil, afirma o presidente da Teleco. Já o presidente-executivo da Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas (TelComp), João Moura, acha que a o grupo espanhol terá dificuldades para fazer novos investimentos no País. Os acionistas fizeram um esforço redobrado para captar os 7,5 bilhões de euros que pagaram pela Vivo, ressalta o executivo.
Ganhos para PT e Oi
A venda da Vivo também beneficiou o grupo Portugal Telecom, que pode se capitalizar com a transação. A PT recebeu uma bolada e conseguiu o que queria que era ficar na América Latina, que é um dos mercados do mundo com mais perspectivas de crescimento dos serviços de telecomunicações, avalia João Paulo Bruder, analista de telecom da IDC Brasil.
Bruder afirma que a PT não fazia questão de ficar com a Vivo e sua entrada na Oi foi um bom negócio para o grupo português. A Oi também ganha com a chegada de um novo investidor. A empresa receberá uma injeção de capital para aumentar sua capilaridade.
Tude lembra que depois que a Oi comprou a Brasil Telecom, a tele apertou os cintos e estava sem caixa para sustentar seu crescimento, principalmente em São Paulo. Boa parte de sua operação era financiada com recursos públicos, captados por fundos de pensão e Banco Nacional de Desenvolvimento e Econômico Social (BNDES).
Além de injeção de capital, a Oi tende a melhorar a sua governança com a entrada da PT na sociedade. Moura, da Telcomp, conta que a operadora tem enfrentado muitos conflitos no mercado e foi alvo de uma série de processos por quebrar algumas regras de competição. A PT tem experiência de concorrência na Europa e conhece claramente as regras, o que deve ajudar a Oi a trabalhar melhor no Brasil, conta o especialista.
Para as demais operadoras, Moura acha que o impacto é positivo por acreditar que as novas parcerias vão estimular a competição no mercado. Diferentemente de outros setores da economia, o consultor observa que em telecom é a oferta que gera demanda. Ele acha que a partir do momento que as teles tiverem disponibilidade para criar e entregar serviços, haverá consumo.
Fonte: COMPUTERWORLD