Segundo dados da Agência Nacional de Saúde, convênios odontológicos também sofreram baixas de março a julho
RIO — De março a julho, os planos de saúde perderam 327 mil usuários, de acordo com dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). A queda nos convênios odontológicos foi ainda maior: 573 mil beneficiários.
Atualmente, o país contabiliza 46.758.762 beneficiários em planos de assistência médica (no mês de março, esse número era de 47.085.717) e 25.363.513 em planos exclusivamente odontológicos.
A queda percebida entre os meses de março e junho, nos planos de saúde, porém, não se repetiu no comparativo entre junho e julho. De 46.723.204 usuários o número subiu para 46.758.762, com um aumento de 35 mil beneficiários. A análise, do mesmo período, do número de usuários de planos odontológicos também demonstrou crescimento. Em junho, eram 25.266.747 e passaram, no mês seguinte a 25.363.513.
Em julho, do total de beneficiários, 31.520.621 tinham plano coletivo empresarial e 6.209.393, por adesão.
A situação, que muitos especialistas creditam à crise econômica advinda da pandemia, pode acabar pressionando o Sistema Único de Saúde (SUS).
Segundo José Cechin, superintendente executivo do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), a migração para o SUS pode não ser total, porque uma parcela, tentando agilizar o tratamento, vai procurar clínicas populares ou consultas particulares. No entanto, isso não é solução para atendimentos de emergência, cirurgias ou exames mais complexos.
— Com a saída em massa dos planos, a maioria vai mesmo ter que ir para a fila do SUS e buscar atendimento em UPA — afirma.
O professor do Departamento de Política, Gestão e Saúde da Faculdade de Saúde Pública da USP Gonzalo Vecina Neto considera que, a depender do cenário econômico e da reposta das operadoras, esse número pode continuar crescendo para até 4 ou 5 milhões de pessoas, especialmente nas regiões Sul e Sudeste, onde se concentram empresas com estrutura de recursos humanos.
— Não tenho dúvidas de que teremos um impacto grande. Mas não tem o que fazer, vai ser assim. As pessoas estão saindo porque não conseguem pagar, a crise pegou todo mundo. Temos que melhorar o SUS, investir. É mais um fator num sistema que está estressado pela epidemia, pelas filas que pararam e não foram atendidas. Vai implicar mais fila e exigir reestruturação — alerta.
Para o especialista, o primeiro passo seria reestruturar o sistema de agendamentos e consultas. Isso teria que ser encabeçado por estados e municípios, ao juntar as filas municipais e estaduais e gerenciar o agendamento para reduzir as faltas.