Levantamento exclusivo do Google ao qual O GLOBO teve acesso mostra que a empresa removeu anúncios de 600 mil páginas e de 16 mil domínios no Brasil entre abril e junho deste ano. E que dois a cada três sites do país que tentam se cadastrar em uma das principais ferramentas de mídia programática do Google, o AdSense, são rejeitados.
Esta é a primeira vez que são revelados dados da plataforma sobre remoção de anúncios no Brasil, um dos seus principais mercados. A empresa diz que não há como comparar essas informações com momentos anteriores por antes não haver levantamentos deste tipo. A companhia defende que os números mostram o compromisso com um ambiente mais seguro na internet.
A divulgação dos dados acontece num momento em que a empresa é questionada no Brasil e no mundo por permitir a remuneração de sites que divulgam conteúdo com mensagens de ódio e violento. Nos últimos meses, o Google se viu pressionado por autoridades brasileiras e pela opinião pública após a revelação de que sites e canais que divulgam notícias falsas e ataques a instituições como o Supremo Tribunal Federal vêm sendo monetizados por meio de mídias programáticas oferecidas.
Para que um site possa ser monetizado, os responsáveis precisam fazer um cadastro. Depois, ferramentas de inteligência artificial e pessoas contratadas pela empresa fazem uma revisão do conteúdo antes de ele ser remunerado. Foi nessa fase, segundo a empresa, que dois em cada três sites brasileiros acabaram barrados entre abril e junho, o que está em linha com os locais de maior atuação do Google no mundo.
Após a aprovação, a empresa diz que passa a fazer uma análise regular das páginas cadastradas para identificar eventuais violações às suas políticas. Foi nesta fase que houve a remoção de anúncios de 600 mil páginas no Brasil e de 16 mil domínios. Um domínio é um endereço na internet, em geral, com diversas páginas.
Sem números exatos, Viviane Rozolen, especialista em educação de editores em políticas de AdSense, diz que a disseminação de conteúdo sexual foi o motivo que mais levou à remoção de anúncios:
— Podemos dizer que, no período analisado, conteúdo sexual que viola nossas restrições para editores foi o principal fator que levou à desmonetização de páginas e domínios no segundo trimestre no Brasil. Na sequência estão conteúdo perigoso ou depreciativo, armas e produtos relacionados, discurso de ódio e software nocivo ou indesejado.
Viviane diz que essa proporção é semelhante à de outros mercados expressivos para o Google. Ela diz que a identificação de conteúdo nocivo tem se tornado cada vez mais difícil devido ao nível de sofisticação na internet. Isso tem ocorrido, por exemplo, na pandemia.
— Nossos especialistas criaram uma nova tecnologia de detecção de golpes e melhoraram os sistemas já existentes para impedir as ações de agentes mal-intencionados. Esse esforço concentrado está funcionando. Ao longo dos últimos meses, bloqueamos e retiramos do ar dezenas de milhões de anúncios relacionados ao novo coronavírus que violavam nossas políticas, por praticar preços abusivos, tirar proveito da escassez global de equipamentos médicos, fazer afirmações enganosas sobre supostas curas ou oferecer seguro-desemprego inexistente — exemplifica.
Questionada sobre se o Google intensificou esforços de remoção de anúncios em sites de conteúdo inapropriado, Viviane não respondeu diretamente. Disse apenas que as pessoas confiam no Google quando estão buscando informações e que o Google atua para garantir que elas também confiem nos anúncios que exibimos na plataforma .