No final da década de 80, o guru da administração de empresas Peter Drucker ganhou notoriedade ao defender novos modelos de gestão e a ideia de que um bom clima organizacional seria fundamental para a sobrevivência das corporações. No centro das discussões ele colocava a necessidade das companhias escolherem bons líderes.
Passadas mais de duas décadas do apogeu de Drucker, muito do que ele deixou de legado em termos de conhecimento para as corporações continua a ser discutido. Mais do que isso, seus ensinamentos têm sido a base para estudar uma tendência que ganha força no mercado: o novo papel dos gestores das empresas.
Nos anos 90, Drucker defendia a ideia de que um bom líder está mais ligado ao ser do que ao fazer. Hoje, conseguimos comprovar sua teoria, afirma Marisabel Ribeiro, diretora da área de gestão de talentos da consultoria em recursos humanos Right Management no Brasil. Prova disso, defende a especialista, está no fato de que questões como capacidade de comunicação, habilidade para lidar com ambiguidades e flexibilidade são algumas das competências que passaram a ser recentemente valorizadas nos principais profissionais de uma organização.
A grande ruptura no papel da liderança veio quando as empresas perceberam que os chefes de antigamente – em uma hierarquia na qual eles mandavam e seus subordinados obedeciam – já não traziam mais resultados esperados. Uma mudança que começou a ser percebida há cerca de 15 anos, calcula o diretor da empresa de recrutamento de executivos Robert Half no País, Fernando Mantovani.
As pessoas passaram a ter mais acesso às informações e, com isso, começaram a questionar as ordens que recebiam, pontua o especialista da Robert Half, que acrescenta: Assim, colocaram em xeque as decisões dos líderes que, até então, alcançavam essa posição mais por tempo de casa do que pelo mérito de gerenciar equipes.
Um dos fatores que contribuiu para esse cenário foi a entrada da Geração Y (pessoas nascidas entre 1980 e 2000) no mercado de trabalho. A diretora da Right Management lembra que tratam-se de pessoas formadas em escolas mais construtivistas e que, por conta disso, não aceitam ordens. Elas precisam ser estimuladas a tomar atitudes com base nas perspectivas do que seu trabalho pode trazer em termos de resultados. Com isso, os profissionais autoritários cederam espaço para líderes inspiradores.
O cenário decisivo para explicar a mudança no papel dos executivos, no entanto, cita Maria Raquel Grassi, professora da Fundação Dom Cabral (FDC), Maria Raquel Grassi, foi a questão da sustentabilidade, que começou a ganhar eco entre as empresas de todo o mundo no final da década de 90. "Passou-se a discutir como a tomada de decisão nas organizações impacta a sociedade em longo prazo, sob o ponto de vista ambiental, social e econômico", relata a especialista, que hoje atua como coordenadora do Núcleo de Sustentabilidade e Responsabilidade Corporativa da FDC.
A prova mais clara dessa mudança, cita a professora, está no fato de que hoje essas três questões já impactam no valor das ações das companhias na Bolsa de Valores e servem como parâmetro para que os acionistas avaliem os riscos da organização e dos projetos.
Muito do que hoje o mercado aceita como liderança sustentável está diretamente relacionado a esse novo ambiente de negócios responsáveis. Ou seja, os principais executivos das organizações são cobrados por, em vez de olhar apenas para dentro da empresa, enxergar como as suas decisões impactam todo o seu entorno – como pessoas, outras empresas e meio ambiente – em curto, médio e longo prazos. "Mas ainda estamos em fase muito embrionária e vemos poucos líderes realmente preparados para assumir essa posição", analisa Maria Raquel.
Sinais de insatisfação
A pressão para que as organizações assumam uma postura sustentável, de um lado, e a falta de líderes capacitados, do outro, justifica os dados alarmantes de uma pesquisa realizada pela empresa de recrutamento de executivos Korn/Ferry Institute.
Fonte: COMPUTER WORLD