Em entrevista à EXAME, Patrick Hruby falou sobre o novo sistema de pagamentos brasileiro e os planos da Movile para os próximos meses
Há uma grande expectativa de que o ecossistema financeiro do Brasil se transforme em 2020. Essa mudança, em parte motivada pela pandemia, deve ser catalisada pela chegada da plataforma de pagamentos instantâneos (PIX), disponibilizada para registro a partir de outubro deste ano, conforme anunciado pelo Banco Central na última quarta-feira, 22.
A PIX permite que os pagamentos entre usuários sejam feitos sem intermediários, o que possibilita transferências quase instantâneas, 24 horas por dia, todos os dias do ano. O usuário poderá ser identificado por meio do número do celular, CPF, CNPJ, QR Code ou outras tecnologias que permitem a troca por aproximação, como a NFC.
O ecossistema todo está animado com a chegada do novo sistema. O Grupo Movile, de empresas como iFood, Sympla e PlayKids, vê a nova tecnologia com bons olhos e está trabalhando ativamente para estar preparado para o lançamento da tecnologia em outubro. Segundo o presidente Patrick Hruby, a vertical de fintechs é uma das apostas do grupo para o futuro.
Para discutir o novo sistema de pagamento e os planos da empresa para os próximos meses, Hruby falou com a Exame. O executivo assumiu o posto em março, em plena pandemia, após o cofundador da Movile, Fabricio Bloisi, deixar a posição para se tornar presidente do iFood em tempo integral.
O que a Movile espera do PIX?
O PIX é uma disrupção do status quo liderada pelo Banco Central, que fez um ótimo trabalho em envolver a indústria no processo. Essa nova forma de inovação abre muitas possibilidades, mas, como toda nova tecnologia, ela precisa entrar em prática para o mercado sentir para onde ela vai nos levar. Acreditamos que essas inovações são oportunidades de trazer algo novo e mudar a forma que estamos operando, trazendo mais funcionalidades. O PIX deve beneficiar os consumidores com mais opções de pagamentos e os pequenos empresários, que terão acesso a soluções mais específicas.
Como a Movile enxerga o mercado de fintechs?
Há um volume grande de investimentos em fintechs no Brasil. É um mercado grande, não só pelas pessoas bancarizadas, mas principalmente pela possibilidade de trazer os desbancarizados para o sistema financeiro. Qualquer mercado grande e concentrado tem muito potencial, no caso das fintechs, não é diferente. Hoje, a Movile tem no grupo a Zoop, que possibilita que outras empresas se tornem fintechs, e a Movile Pay, que oferece serviços financeiros para restaurantes, como crédito e conta digital. A estratégia da Movile para fintechs é crescer os negócios atuais e também investir nas aquisições. É uma vertical ampla.
Como a Movile se adaptou à pandemia?
Por sermos um grupo internacional, com parceiras na China e na Europa, acompanhamos o impacto em outros mercados e estávamos discutindo com seriedade o possível impacto do coronavírus nos nossos negócios. Após o Carnaval, já havia um comitê pré-covid trabalhando em possíveis medidas a tomar. Em março, colocamos todos os funcionários para trabalhar de casa e buscamos dar clareza a todos de que, naquele momento, a prioridade era a saúde dos colaboradores e de seus familiares como um todo. Em segundo lugar, nos preocupamos com a saúde das empresas e do ecossistema. Adotamos medidas de congelamento de contratações e de redução de despesas. Fizemos tudo que podia ser feito para proteger o caixa. Além disso, quisemos assumir um papel de liderança para ajudar o ecossistema como um todo a atravessar o período da melhor forma possível.
Qual é a estratégia do grupo agora?
Estamos sendo pró-ativos em pautar o futuro pós-pandemia. Queremos traçar o nosso caminho e começar a pensar em como o mundo vai estar diferente. Nesse contexto, fizemos investimento na startup colombiana Mensajeros Urbanos, que é semelhante ao iFood, e, em abril, fizemos uma fusão com a Domicilios.com [plataforma de entregas colombiana], mas estamos aguardando a autorização do regulador local. Ainda não estamos no pós-pandemia, mas começamos a virar a página. Nesse processo, precisamos investir no crescimento das nossas empresas e expandir em novas verticais.
Quais são os planos da empresa até o final do ano?
Nosso foco tem sido em planejamentos mais de curto prazo. Temos um norte, mas focamos em tiros mais curtos, de três meses. Assim conseguimos uma visibilidade maior e mais velocidade para adaptar planos. Até o final do ano, esperamos ter atravessado esse período difícil e estar de volta ao normal, ou no novo normal, com novas empresas como parte do grupo e investindo de forma agressiva para o crescimento das empresas que temos hoje.
Qual é o principal desafio para a Movile hoje?
O desafio para todos é a pandemia que seguimos atravessando. É algo que tem potencial de impactar a saúde de todos e que impacta a economia como um todo. É nosso desafio maior e primordial, gera incertezas e demanda muitas decisões que precisam ser tomadas com somente 50% de informação. Em uma empresa de tecnologia, nosso oxigênio é sempre crescimento, estamos sempre buscando nos reinventar e inovar, mas é difícil focar nisso quando estamos preocupados com a saúde das pessoas e com a situação de cada um em casa. Estamos fazendo o melhor para atravessar esse período para que possamos voltar a buscar atingir o sonho de impactar 1 bilhão de pessoas no mundo.