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24/05/2024 - Como será o amanhã da medicina?

A desvalorização do título de especialista pode desmotivar futuros médicos a buscarem formação de qualidade, sabendo que o mercado aceita títulos de menor rigor
Por Ludhmila Hajjar

É importante que a sociedade tenha conhecimento do que está ocorrendo e do cenário que se apresentará em breve em relação à educação médica e à formação de especialistas no Brasil. Antes de apresentar o grave cenário que se avizinha, faz-se necessária uma rápida introdução sobre a situação atual.

Ao final dos seis anos de sua graduação, o médico presta o exame para a residência médica, na área de sua preferência. Os programas de residência são oferecidos pelos centros formadores. Ao final do programa, que dura de 2 a 5 anos, o médico, após novo processo de avaliação, recebe o título de especialista na sua área. Ele é concedido pelas sociedades de especialidades, por meio da Associação Médica Brasileira (AMB), ou pelos programas de residência médica credenciados pela Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM).

A residência médica foi instituída no Brasil em 1944, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, sendo o primeiro programa oferecido, o de ortopedia e traumatologia. Seu princípio básico é fornecer ao médico recém-formado a possibilidade de fazer treinamento prático, em serviço, com supervisão e orientação de profissionais mais experientes.

Desde sempre, a medicina se aprende com a prática e com o exemplo. Com o advento do aumento expressivo do número de escolas médicas no Brasil, hoje em torno de 400, são mais de 220 mil alunos cursando Medicina com apenas 41.853 vagas disponíveis oferecidas pelos 789 centros formadores disponíveis para residência médica.

Com esses dados, não é necessário nenhum cálculo mais sofisticado para imaginarmos o cenário crítico que se descortina. Milhares de médicos sem treinamento prático em residência e sem título de especialista que estarão à procura da possibilidade de obter o título de alguma forma.

Com isso abre-se um mercado enorme para cursos de especialização sem treinamento prático que tentarão conseguir autorização junto aos órgãos governamentais para fornecer documentos a ser utilizados como os verdadeiros títulos de especialista, o que nos leva à pergunta inicial deste artigo: Como será o amanhã da medicina?. Médicos titulados como especialistas", sem ter recebido treinamento prático e sem haver mecanismo para que a população possa reconhecê-los.

A desvalorização do título de especialista pode desmotivar futuros médicos a buscarem formação de qualidade, sabendo que o mercado aceita títulos de menor rigor. A longo prazo, pode levar à deterioração contínua da prática médica no país. É essencial que medidas sejam tomadas para garantir que a formação médica mantenha altos padrões, preservando a segurança e o bem-estar da população.

A abertura indiscriminada de escolas médicas no Brasil sem a devida garantia de qualidade também tem gerado sérias preocupações no setor educacional e de saúde. A proliferação de instituições sem infraestrutura adequada, corpo docente qualificado e critérios rigorosos de seleção compromete a formação de médicos.

Isso pode resultar em profissionais despreparados para atender as demandas complexas do sistema de saúde, colocando em risco a segurança dos pacientes e a eficiência dos serviços prestados. Além disso, essa expansão descontrolada pode sobrecarregar o mercado de trabalho, diminuindo as oportunidades para médicos recém-formados e potencialmente depreciando a valorização da profissão médica no país.

Aqui é importante relembrar o fisiologista argentino Bernardo Houssay, Prêmio Nobel em 1947, quando diz que é mais perigoso um mau médico que uma fera solta, pois esta é conhecida e evitável, enquanto ao mau médico os pacientes se entregam convencidos de que as universidades selecionam e ensinam com rigor, excluindo os ineptos e imorais.

* Colaborou Tarcísio Eloy Pessoa de Barros Filho, Professor Titular do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da FMUSP


Fonte: https://oglobo.globo.com/blogs/receita-de-medico/post/2024/05/como-sera-o-amanha-da-medicina.ghtml



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