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Marte e Vênus - 26/07/2015

Por Glauter Jannuzzi*

É impressionante como o tempo passa e pouca coisa muda no que diz respeito à reclamação dos que contratam jovens talentos: eles saem das universidades e escolas técnicas despreparados para o mercado de trabalho.

O best-seller de John Gray "Homens são de Marte, mulheres são de Vênus" descreve as características intrínsecas da natureza psicológica de homens e mulheres e demonstra que, apesar de seres da mesma espécie, do ponto de vista psicológico, os dois parecem viver em planetas bem distintos.

Da mesma forma, analisando empiricamente o tema, empresas e escolas são instituições que não falam a mesma língua. Parece que as empresas são instituições de um planeta e as escolas de outro. No planeta das escolas – vamos chamá-lo de "Universivênus" – há duas grandes "classes sociais": professores e alunos.

Professores detêm o poder por possuírem o conhecimento. Alunos, por sua vez, são seres – em teoria – ávidos por conhecimento. O objetivo dos professores é transmitir conhecimento para formar bons profissionais. Docentes precisam medir o conhecimento de seus alunos e para isso fazem avaliações (leia-se provas). Alunos sabem que, para conseguirem aprovação, precisam se esforçar, estudar muito.

No planeta das empresas – vamos chamá-lo de "Marteoumorra" – a coisa é diferente. As "classes sociais" não são tão bem delineadas, apesar de existirem dois grandes grupos: a figura que detém o poder – o chefe – e a que precisa se esforçar para conseguir bons resultados – o funcionário. Chefes – em teoria – querem extrair o melhor de sua equipe para conseguir os resultados de que a empresa tanto precisa. Já os funcionários precisam desempenhar bem suas funções para que permaneçam importantes e necessários para a empresa e consigam futuras promoções.

Da mesma forma que os professores de Universivênus, os chefes precisam avaliar seus funcionários e o resultado pode gerar promoção, uma reunião ou até demissão. Porém, em Marteoumorra não é só o conhecimento que conta. Calcula-se também – e muito – como a empresa o enxerga e como pode ser útil. Diferentemente do que ocorre em Universivênus, onde os melhores alunos são os que tiram as maiores notas, em Marteoumorra é fundamental ter um ótimo relacionamento com sua equipe de trabalho – incluindo seu chefe.

Os valores de cada um desses planetas são bem diferentes. Enquanto em Universivênus um ser pode se isolar do mundo e ainda assim tirar a maior nota da classe em uma prova, em Marteoumorra conta muito ter bons contatos por todo o planeta. É preciso se relacionar, conhecer outros seres da mesma espécie, mostrar flexibilidade e adaptação. Caso contrário, mesmo sendo "o que mais estuda", é provável que você não seja o mais bem avaliado.

O que mais frustra um ser de Universivênus é se esforçar muito e sua nota ficar aquém do que esperava. Porém, há certa objetividade nos métodos de avaliação em Universivênus. Por outro lado, em Marteoumorra, a subjetividade impera na maioria das vezes. O sucesso não depende apenas do funcionário. Sozinho é quase impossível prosperar em Marteoumorra.

Quando um ser do planeta Universivênus faz uma viagem e pousa no planeta Marteoumorra, começam a surgir as mudanças em seu comportamento. O ser "aluno" quando deixa seu planeta de origem torna-se funcionário. O problema é que sempre que um novo ser de Universivênus chega em Marteoumorra, espera-se que este já conheça os valores e como as coisas realmente são no novo planeta. Fato que não ocorre, gerando assim muita frustração nesta relação. Daí os seres de Marteoumorra dizerem que esperavam mais dos seres de Universivênus ou que em Universivênus a teoria é muito valorizada quando na verdade o que importa é a prática – altamente valorizada em Marteoumorra.

Voltando a Terra, percebe-se que os recém-formados chegam ao mercado de trabalho sem os conhecimentos necessários para desempenharem suas funções em seu primeiro emprego. Porém, estes mesmos jovens foram destaques no meio acadêmico. Não há convergência entre ambientes empresariais e acadêmicos. São raras as empresas que promovem seu funcionário automaticamente quando este se forma ou obtém um título de Mestre ou Doutor. Portanto, há claramente uma incoerência na relação Empresa-Escola.

É preciso investir em Educação. Só assim, empresas terão melhores profissionais e escolas formarão melhores cidadãos, mais aptos a sobreviverem e prosperarem na sociedade. Sem o apoio das grandes empresas, muitos alunos continuarão a passar anos e anos nas escolas – desde o ensino básico e fundamental até níveis superiores – aprendendo muita coisa inútil para sua vida profissional futura. Continuarão a sair das escolas sem dominar um segundo idioma e, em muitos casos, estarão competindo por subempregos ou empregos em áreas totalmente distintas daquela na qual se formaram.

Creio que já deveriam existir inúmeras parcerias entre empresas e escolas nos mais diversos níveis – básico, fundamental, técnico, universitário. É preciso rever a educação no país de forma a aproximar sua grade curricular ao que é necessário para o desenvolvimento estratégico do país. Professores deveriam ser mais valorizados pela sociedade e pelas empresas. Alunos deveriam aprender conteúdos importantes para o mercado prático de trabalho.

Isso só será possível com maiores investimentos do governo e das empresas em educação. Não necessariamente, maiores quantias de dinheiro, mas sim, melhor planejamento estratégico, organização e o envolvimento efetivo das empresas. É preciso que as empresas enxerguem que a mão-de-obra qualificada e barata tão procurada está mais perto do que se imagina. E no mesmo planeta!

*Glauter Jannuzzi é gerente de Projetos de TI da Unisys Brasil, mestre em Engenharia de Sistemas e Computação pelo IME, e possui MBA em Gestão Empresarial pela FGV.



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